segunda-feira, outubro 30

O Bagaço do Ramalheiro


Nas típicas tascas e cafés Portugueses às vezes passam-se histórias incriveís. Hoje ficam aqui algumas que até se poderiam ter passado na associação da foto.

Esta ocorreu numa tasca em Braga e foi-me contada por um amigo. Dois indivíduos têm uma troca de palavras que culmina em agressão. Um leva um murro no meio dos olhos.
O agredido depois de levar, e se refazer conforme pôde, vira-se para o agressor e diz-lhe: Olha que isto não fica assim!
Responde o agressor: Pois não, vai inchar!

Esta presenciei eu na minha terra Natal em Mira. É normal os velhotes viverem até idade avançada por aquelas bandas. Existe um hábito que muitos conservam desde novos que é o copito de bagaço pela manhã. Chamam-lhe “matar o bicho”. E o termo diz tudo. É que gripes e constipações nem vê-las… Tal hábito, dava origem por vezes a que se fizessem concursos para ver quem aguentava mais copos de bagaço de penalty.
Em Mira, existe uma fonte famosa que é a fonte do Ramalheiro. Tem água cristalina e potável e muitos ainda vão regulamente lá buscar o precioso líquido para vários fins.
Por vezes apareciam forasteiros cheios de papo ou goela, querendo desafiar os nativos no concurso do bagaço. Quando isto acontecia o taberneiro já sabia como lidar com a situação e quem perdia o concurso pagava todos os bagaços bebidos.
Ora o taberneiro servia os dois primeiros copos de bagaço. O concorrente de Mira erguia o copo, virava-o para a boca e de um trago só, bebia o líquido milagroso. Depois batia com o punho cerrado no peito e dizia com voz grossa: “Este é que bate!” ou “Este até faz crescer cabelos no peito!”
O concorrente de fora dizia com voz um pouco apagada e rouca: “Já tou habituado!”.
O segundo e terceiro bagaço eram normais para os dois concorrentes. Mas a partir daqui a conversa mudava. Aqui vinha ao de cima o factor casa e quando o concorrente da casa dizia “Ó tóino dá-me aí mais um bagaço do Ramalheiro!”, o caso mudava de figura. É que era servido ao concorrente da casa um copo de água da fonte do Ramalheiro e ao forasteiro o bagaço de 40º forte e desinfectante. É claro que a audiência já sabia da história e ria a bom rir.
No final ganhavam os da casa, o forasteiro pagava a conta e o dinheiro em copos de água pagos por este, era devolvido ao concorrente de Mira.
No fundo ninguém perdia, o forasteiro ganhava uma bebedeira memorável, o concorente de Mira bebia e ainda levava dinheiro para casa, a audiência passava bons bocados e o taberneiro tinha a casa cheia.
E foi assim que se criou a lenda dos Mirenses serem imbatíveis no mata bicho...

Sem comentários:

 
Free counter and web stats